Se um dia tivermos coragem, separamo-nos!
Eu sei! Nunca a iremos ter!
Mas se um dia tivermos coragem separamo-nos. E
depois somos livres para nos juntarmos.
Se um dia tivermos coragem, cada um segue o
seu rumo e juntamos destinos.
Se um dia tivermos coragem poderemos ser
felizes… Às vezes!
Se um dia tivermos coragem poderemos ser quem
somos. O que queremos. O que desejamos. O que sonhamos. O que há muito
esperamos…
Há anos, muitos anos, deixei-me morrer.
Penetrar num coma profundo do qual me recusava a sair. Uma morte aparente que,
por ser indigente, não foi reconhecida. Um corpo presente não permitia que tal
acontecesse. A morte física é mais fácil de superar! Morte. Fim! Nada há que
enganar.
Há anos, muitos anos, deixei de ter razões
para viver. Mas não tive razões para morrer. E se a vida continua, e se não conseguimos
viver, e se por tudo o que façamos não conseguirmos morrer… o que fazemos para continuar?
Há anos, muitos anos, eu não queria morrer.
Mas a vida não me permitia viver. Porquê então continuar?
Pelos que me rodeavam e que, sem mim, não conseguiam viver? Quem sou eu para
isto dizer? Quem sou eu para julgar? Se eu não estivesse? Teriam continuado a
viver? Se eu não existisse? Poderiam continuar a existir? Não! Não posso julgar
quem me rodeia e que alguma coisa poderia ter feito. Não posso julgar, quem
nunca existiu.
Nada há que eu possa pensar que poderia ter
sido feito. Nada há que me leve a dizer que não foram honestos. Afinal fui eu
quem me deixou morrer. Entrar em coma e desaparecer.
Afinal fui eu quem não esteve presente. Que
nas alturas criticas se encontrava ausente. Que nada fez. Que nada esperou. Que…
nada deu!
Há algum tempo. Pouco tempo! Alguém me
conseguiu despertar. De uma morte aparente em que não deveria estar. De um coma
profundo do qual precisava de me libertar… Devolveu-me à vida. Fez-me acordar.
Deu-me novas esperanças de como me encontrar.
Eu sei que nada nesta vida é eterno. Eu sei
que há coisas cujo tempo é efémero. Eu sei que o amor não surge por encomenda…
Mas tudo o que faça precisa de emenda!
Há muito a ganhar e muito pouco a perder. Há
muito, muito tempo que vivo a sofrer!
Há algum tempo alguém me deu um motivo para
viver. Apenas para ter um pretexto para mo tirar.
Apenas porque queria ver-me sofrer. Morrer.
Desaparecer!
Há algum tempo atrás decidi acordar do coma em
que me encontrava mergulhada. Não o devia ter feito. Não me devia permitir tal
evento.
Há algum tempo atrás decidi ser alguém.
Pensar. Viver. Amar.
Nada havia no mundo que me desse esse direito.
Nada tinha sido alterado e tudo devia permanecer como até aí tinha estado. Em coma.
Morta para o mundo e para os sentimentos. Sem existir. Sem amar ou sentir...
Mas a hora de acordar tinha chegado. Para
novamente amar. Para novamente viver. Para novamente sonhar. Sofrer e morrer.
Agora, no momento presente, sinto-me enganada.
Sinto-me ultrajada. Sinto que, para além de mim há mais alguém a sofrer. Alguém
que me despertou mas não me consegue fazer viver…
Porquê então acordar? Porque retomar uma vida
durante tantos anos interrompida? Por amor? Ilusão?
Por momentos de ternura ou por uma breve
paixão?
Há muito tempo atrás a minha vida acabou.
Entrei em coma e morri.
Nada nem ninguém tinha o direito de me
despertar.
De me fazer viver. De me levar a sonhar.
De me convencer a acreditar que
ainda poderia existir amor. Esperança. Vontade de viver…
Agora…
Só me resta esquecer
... e voltar a morrer.
Adelina Antunes
01-junho-2013
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